O descapotável de Xamilas

Conheço uma ervilha. Chama-se Xamilas. Tem um descapotável amarelo com dois retrovisores laterais. Quando acordou hoje de manhã viu uma ervilha azul a pairar sobre o ar. Era idêntica a qualquer outra ervilha com a excepção de simultaneamente ter filhos e ser virgem. E ser azul.

Disse-lhe a virgem que o mundo era determinístico. Dado que ela era azul, Xamilas acreditou. Ainda para mais, virgem. De repente, invadiu-a uma imensa tristeza. O descapotável amarelo não seria então mérito seu. Apenas o resultado de ela ser aquele conjunto de átomos que no seu conjunto se designavam por Xamilas e estar definido algures que ela o ia comprar.

Chorou, chorou e voltou a chorar. Depois chorou ainda mais, porque percebeu que aquele choro não era uma consequência da sua nova percepção do mundo, mas apenas o resultado de ele ser determinístico. Sentiu-se presa. O aperto no peito foi tão grande que morreu. Se não foi, pareceu mesmo.

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