Camola e Ambrósio

Conheço uma ervilha. Chama-se Camola. Camola comprou um PC. Trouxe-o para casa. Decidiu chamar-lhe Ambrósio. Camola considerava-se uma ervilha decidida e ervilha do seu nariz. Ao contrário de Xamilas, não ia deixar o mundo tomar qualquer decisão por ela. Queria ser ela a escolher o sistema operativo do Ambrósio. Ligou-o e esperou.

Em pânico descobriu que o mundo já tinha escolhido por ela. Era Uindôs. Tentou acalmar-se. Bebeu um copo de água com açúcar. Fitou o ecrã. Esperou, esperou, esperou. Voltou a esperar. Sempre aquelas janelas às cores no ecrã. Esperou. Mexeu o rato. O ecrã ficou todo azul. Mexeu o rato novamente. Já nada. Desligou-o.

Camola não gostava de fazer o que lhe mandavam. Menos ainda, de fazer o que era suposto. Decidiu que se aquilo era o que o mundo tinha decidido por ela, sem sequer a consultar, era precisamente outra coisa qualquer o que ela queria. Escolheu Pinux. Viu o tamanho das instruções de instalação e desistiu. Depois lembrou-se que ela não era ervilha de desistir. Prosseguiu. Durante quatro horas. Operação concluída.

Decidiu então relaxar ouvindo um dos seus empolgantes CDs de Fibra Pesada. Queria ouvir Robirta. Pôs o CD, nada. Leu o manual, nada. Viu catorze fóruns na internet, percebeu mais qualquer coisa. Depois de um conjunto de comandos, clicou no CD e abriu-se um programa onde se lia "Vou pegar fogo às tuas vagens", o título da primeira música do seu CD. Ficou contente. Era claramente um bom prenúncio. Esperou.

Já quarenta segundos música adentro e, aos ouvidos, nada. Algo se passava. Verificou o volume de som, fez tudo o que uma ervilha razoável faria. Nada. Voltou aos fóruns. Depois de 29 entradas de fórum, instalou uma biblioteca de som especial para CDs. Mais 85 entradas de fórum e uns comandos especiais numa coisa chamada Terminal, e apareceu uma lista infindável de símbolos crípticos no ecrã a uma velocidade incrível. Parecia que estava naqueles filmes em que ervilhas muito espertas têm que quebrar códigos de bancos e assim. Sentiu-se especial. No final desses símbolos, contudo, apareceu uma mensagem de erro. Contemplou por seis segundos o tecto branco.

Toda aquela dança, aquele jogo de carregar em teclas, a entusiasmava. E, com aquele jogo, o que ia mesmo bem era uma música, pensou. Após mais alguns fóruns, conseguiu ejectar o CD, pegou nele e colocou-o no velho leitor que tinha na secretária. Carregou no botão Play. Fantástica aquela Robirta. Música pujante, cheia de energia. Atirou o Ambrósio pela janela. Não deu conta, mas o Ambrósio caíu em cima de um pombo. O pombo ficou espalmado no cimento. Nem piou.

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