Conheço uma ervilha. Chama-se Ceroulas. Ceroulas começou a ter sonhos recorrentes com o Universo Azul Carmim. Na verdade, ela já costumava sonhar com ele todos os dias. Mas agora sonhava cada vez mais. E com mais força. Às vezes, mesmo acordada, chegava a ver grandes bandos de albatrozes a voar na sua direcção para a comer. Sentiu que devia fazer alguma coisa. Decidiu falar com Kolmicas. Apesar de estar farta das perguntas das ervilhas, Kolmicas tinha sempre tempo para questões profundas como esta. E Ceroulas sabia-o. Era daquelas poucas coisas que mantinha como certas na sua base de dados cerebral.
Ceroulas telefonou a Kolmicas. Ficou logo alegre quando percebeu que ao levantar o auscultador do telefone e ao chegá-lo até ao ouvido, o auscultador do telefone ia de facto parar ao seu ouvido. E precisamente ao ouvido esquerdo, tal como ela queria. Do outro lado atendeu Kolmicas. Ceroulas notou algum ruído na linha, mas lembrou-se que deveria ser o barulho de Kolmicas a recortar jornais, prosseguindo a sua classificação de notícias em caixinhas azuis e vermelhas.
Apesar de dedicar todo o seu tempo livre a manter um maravilhoso sistema organizacional baseado em caixinhas coloridas, Kolmicas tinha sempre tempo para conversar com Ceroulas. Eram muito amigas. Ambas sabiam das suas diferenças abissais e de como seriam sempre eternas, mas eram amigas. E as amigas gostam umas das outras apesar das suas diferenças.
Ceroulas falou-lhe do Universo Azul Carmim e de como tinha sonhos recorrentes com um espaço abstracto formado por todos os conceitos possíveis e imaginários. Falou também nos albatrozes maquiavélicos, mas Kolmicas não pareceu dar importância. Kolmicas não era muito de aves. Ceroulas prosseguiu dizendo que lhe parecia até razoável escrever um programa de computador que ficasse a enumerar todos os conceitos desse espaço. Um a um. Um a um. Para sempre. Na posse desse maravilhoso programa, não seria preciso descobrir mais nada no mundo. Poderia levar algum tempo mas, qualquer que fosse o conceito genial, nalguma altura o programa iria acabar por criá-lo. Ceroulas babou-se.
Kolmicas não lhe pareceu muito interessada. Mas como amiga, ouvia-a sempre com muita atenção. Ceroulas tentou então apelar directamente a Kolmicas, dizendo que todas as notícias de jornal, os pedaços de informação que alguma vez alguém podia escrever ou transmitir, viveriam nesse universo fascinante. Kolmicas ficou por minutos a contemplar um ponto do tecto enquanto imaginava um armazém de caixas vermelhas e azuis. Imaginou-o ultra organizado e isso acalmou-a. Depois, nessas suas visões, apercebeu-se de que esse armazém não tinha qualquer fim visível, de que as caixas vermelhas e azuis se estendiam por uma infinitude inimaginável e começou com suores frios. Sentiu que não iria ter tempo para organizar em caixas todo aquele Universo Azul Carmim. Sentiu uma falta de ar sôfrega. Os suores passaram a espasmos ritmados até que Kolmicas caíu redonda no chão. No momento do estrondo, Ceroulas viu o seu telefone transformar-se num albatroz gigante que ficou a olhá-la fixamente sem piscar os olhos. Ceroulas não ficou surpreendida. Era o que ela esperava da vida. Fez-lhe uma festa no pescoço. Era um animal doce. Tinha penas suaves.
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O sistema de atendimento de Kolmicas
Conheço uma ervilha. Chama-se Kolmicas. Kolmicas é uma ervilha muito inteligente. Sabe muitas coisas e relaciona-as todas de forma exemplar. Por essa razão, as outras ervilhas passavam a vida a fazer-lhe perguntas. Ora eram sobre o caminho mais curto entre dois pontos da cidade, ora sobre efeitos secundários de cremes para peles mais verdes. Kolmicas acerta sempre em todas as perguntas. Desde que tenham uma resposta objectiva. É o seu dom. É esse e classificar informação. Até hoje nunca apareceu uma pergunta à qual não soubesse responder de imediato. As outras ervilhas estariam dispostas a pagar fortunas por aquelas respostas. Chegavam a tentar oferecer-lhe rios de vagens. Kolmicas nunca aceitava. Não o fazia por interesse materialista. Fazia-o apenas na ânsia de encontrar um dia uma pergunta difícil. Uma que lhe desse luta. Uma, quiçá, à qual não soubesse responder.
O tempo foi passando e essa pergunta desejada nunca chegava. As perguntas eram já tantas que era difícil para Kolmicas manter em dia o seu sistema de classificação de informação em caixinhas coloridas. Aos poucos, Kolmicas sentiu-se farta de ser escrava destas perguntas. Quis desistir. Falou com Lustrosa, que tinha sempre a solução perfeita para este tipo de problemas. Lustrosa analisou em detalhe todo o contexto e entregou-lhe um relatório de 400 páginas. Kolmicas leu o relatório atentamente e seguiu todas as instruções à risca.
Começou por implementar um sistema de gestão de filas de espera. Comprou um mostrador digital e um máquina de senhas numeradas. Ao chegar à porta de sua casa, as ervilhas tinham agora que escolher uma e uma só de três senhas: (i) questões envolvendo a palavra "que"; (ii) questões envolvendo a palavra "e"; (iii) outras questões. A senha tinha um número e as ervilhas podiam seguir a chamada no mostrador digital. Cada ervilha podia ler na sua própria senha uma estimativa da hora a que iria ser feito o atendimento. Para tornar o atendimento mais eficiente, antes de serem atendidas por Kolmicas, as ervilhas passavam agora por um sistema de triagem automático. O sistema fazia algumas perguntas às ervilhas para decidir qual o grau de urgência de cada pergunta e também para acelerar o tempo de resposta de Kolmicas. Quando confrontada com a pergunta, Kolmicas saberia já o tópico da pergunta e responderia ainda mais depressa.
As ervilhas adoraram o sistema. Mostrava dedicação por parte de Kolmicas e trazia todo um novo nível de organização ao atendimento. Punha fim aos conhecidos e odiados esquemas para dar o golpe na fila. Se tivessem algum assunto importante a tratar, podiam sair e voltar sem perder a sua vez. Para além disso, na sala de espera podiam fazer passatempos divertidos. Acima de tudo, demostrava o grande empenho de Kolmicas em tornar o atendimento mais eficiente. E as ervilhas gostavam quando outras ervilhas mostravam empenho nelas.
Ao fim de algum tempo algumas ervilhas começaram a ficar insatisfeitas. Umas ficaram algo confusas porque algumas perguntas usavam tanto a palavra "que" como a palavra "e" e era difícil decidir qual era a senha ideal para elas. Outras sentiam que o sistema de triagem automático fazia perguntas demasiado intrusivas, como o número de vezes que elas rebolavam nos lençóis antes de adormecer. Mesmo estando garantida pela lei a protecção dos seus dados pessoais, as ervilhas sentiram-se algo expostas. Elas confiavam em Kolmicas, mas alguma empresa mal intencionada podia encontrar forma de cruzar esses dados com a sua base de dados e se havia coisa que as ervilhas não podiam aceitar era um mundo sem privacidade. Outras ainda queixaram-se de que não havia um espaço onde pudessem deixar sugestões ou apresentar reclamações. Outras, por fim, não gostavam do tipo de passatempos na sala de espera.
Para fazer face a todos esses problemas Kolmicas criou um número de telefone gratuito de Apoio à Ervilha Consumidora (AEC) onde as ervilhas podiam, não só esclarecer todas as suas dúvidas, como deixar os seus comentários e sugestões. O atendimento telefónico era completamente automático através de um sistema de menus. Era algo que as ervilhas adoravam. Não corriam o risco de falar com alguma ervilha menos simpática. Bastava carregar nos dígitos do seu telefone para escolher as opções de cada menu de atendimento. Se não estivessem contentes com algum menu, podiam carregar na tecla asterisco (*) e personalizar a ordem das opções no menu e até mesmo o conteúdo de cada opção. Em qualquer altura, podiam também pedir para falar com um operador que ouvia todas as suas críticas e dizia numa voz grave e sensual expressões reconfortantes como "compreendo perfeitamente", "já tivémos outras queixas nesse sentido e estamos a trabalhar arduamente para resolver precisamente esse problema". No final o operador dizia sempre "mais alguma coisa em que possa ser útil?" e só depois -- e independentemente da resposta das ervilhas -- desligava. Se estivessem descontentes com o AEC, podiam carregar cardinal (#) a qualquer instante e deixar gravada a sua queixa.
Algumas ervilhas gostaram tanto do sistema que passavam horas e horas a personalizar os menus do AEC. Alteravam a ordem das opções, mudavam a voz do atendimento automático, deixavam sugestões de melhoramento. Sentiam-se bem por todas as suas preferências ficarem guardadas. Era realmente um atendimento personalizado e isso fazia-as sentirem-se importantes. Outras usavam-no como um sistema de terapia pós-laboral, carregando descontroladamente na tecla cardinal e deixando gravações aos berros de tudo o que lhes tinha corrido mal durante o dia.
A utilização do AEC passou a representar praticamente 100% de toda a operação do serviço de perguntas e respostas de Kolmicas. Na realidade apenas uma ervilha por mês chegava efectivamente a fazer uma pergunta. Essa ervilha era trazida até ao escritório de Kolmicas onde um holograma indistinguível de Kolmicas lhe dizia: "Essa é uma questão profunda. Terei que pensar e responder depois. O sistema tem os seus detalhes pessoais. Mando-lhe a resposta para a morada de casa ou por telefone". Invariavelmente a resposta perdia-se depois no intrincado sistema organizacional. Felizmente a ervilha podia telefonar para o número de AEC e requerer o seu reenvio. Na maior parte dos casos, entre alterações de menus e mudanças da voz de atendimento, a ervilha acabava por se esquecer da queixa que ia fazer. E mesmo quando as ervilhas eram perseverantes, acabava por passar tanto tempo que a resposta já não era necessária. Como tudo era automático, Kolmicas podia dedicar-se por inteiro à classificação da informação, a sua verdadeira paixão. Acima de tudo, sentia-se bem consigo mesma por poder disponibilizar um serviço útil e eficiente à comunidade.
O tempo foi passando e essa pergunta desejada nunca chegava. As perguntas eram já tantas que era difícil para Kolmicas manter em dia o seu sistema de classificação de informação em caixinhas coloridas. Aos poucos, Kolmicas sentiu-se farta de ser escrava destas perguntas. Quis desistir. Falou com Lustrosa, que tinha sempre a solução perfeita para este tipo de problemas. Lustrosa analisou em detalhe todo o contexto e entregou-lhe um relatório de 400 páginas. Kolmicas leu o relatório atentamente e seguiu todas as instruções à risca.
Começou por implementar um sistema de gestão de filas de espera. Comprou um mostrador digital e um máquina de senhas numeradas. Ao chegar à porta de sua casa, as ervilhas tinham agora que escolher uma e uma só de três senhas: (i) questões envolvendo a palavra "que"; (ii) questões envolvendo a palavra "e"; (iii) outras questões. A senha tinha um número e as ervilhas podiam seguir a chamada no mostrador digital. Cada ervilha podia ler na sua própria senha uma estimativa da hora a que iria ser feito o atendimento. Para tornar o atendimento mais eficiente, antes de serem atendidas por Kolmicas, as ervilhas passavam agora por um sistema de triagem automático. O sistema fazia algumas perguntas às ervilhas para decidir qual o grau de urgência de cada pergunta e também para acelerar o tempo de resposta de Kolmicas. Quando confrontada com a pergunta, Kolmicas saberia já o tópico da pergunta e responderia ainda mais depressa.
As ervilhas adoraram o sistema. Mostrava dedicação por parte de Kolmicas e trazia todo um novo nível de organização ao atendimento. Punha fim aos conhecidos e odiados esquemas para dar o golpe na fila. Se tivessem algum assunto importante a tratar, podiam sair e voltar sem perder a sua vez. Para além disso, na sala de espera podiam fazer passatempos divertidos. Acima de tudo, demostrava o grande empenho de Kolmicas em tornar o atendimento mais eficiente. E as ervilhas gostavam quando outras ervilhas mostravam empenho nelas.
Ao fim de algum tempo algumas ervilhas começaram a ficar insatisfeitas. Umas ficaram algo confusas porque algumas perguntas usavam tanto a palavra "que" como a palavra "e" e era difícil decidir qual era a senha ideal para elas. Outras sentiam que o sistema de triagem automático fazia perguntas demasiado intrusivas, como o número de vezes que elas rebolavam nos lençóis antes de adormecer. Mesmo estando garantida pela lei a protecção dos seus dados pessoais, as ervilhas sentiram-se algo expostas. Elas confiavam em Kolmicas, mas alguma empresa mal intencionada podia encontrar forma de cruzar esses dados com a sua base de dados e se havia coisa que as ervilhas não podiam aceitar era um mundo sem privacidade. Outras ainda queixaram-se de que não havia um espaço onde pudessem deixar sugestões ou apresentar reclamações. Outras, por fim, não gostavam do tipo de passatempos na sala de espera.
Para fazer face a todos esses problemas Kolmicas criou um número de telefone gratuito de Apoio à Ervilha Consumidora (AEC) onde as ervilhas podiam, não só esclarecer todas as suas dúvidas, como deixar os seus comentários e sugestões. O atendimento telefónico era completamente automático através de um sistema de menus. Era algo que as ervilhas adoravam. Não corriam o risco de falar com alguma ervilha menos simpática. Bastava carregar nos dígitos do seu telefone para escolher as opções de cada menu de atendimento. Se não estivessem contentes com algum menu, podiam carregar na tecla asterisco (*) e personalizar a ordem das opções no menu e até mesmo o conteúdo de cada opção. Em qualquer altura, podiam também pedir para falar com um operador que ouvia todas as suas críticas e dizia numa voz grave e sensual expressões reconfortantes como "compreendo perfeitamente", "já tivémos outras queixas nesse sentido e estamos a trabalhar arduamente para resolver precisamente esse problema". No final o operador dizia sempre "mais alguma coisa em que possa ser útil?" e só depois -- e independentemente da resposta das ervilhas -- desligava. Se estivessem descontentes com o AEC, podiam carregar cardinal (#) a qualquer instante e deixar gravada a sua queixa.
Algumas ervilhas gostaram tanto do sistema que passavam horas e horas a personalizar os menus do AEC. Alteravam a ordem das opções, mudavam a voz do atendimento automático, deixavam sugestões de melhoramento. Sentiam-se bem por todas as suas preferências ficarem guardadas. Era realmente um atendimento personalizado e isso fazia-as sentirem-se importantes. Outras usavam-no como um sistema de terapia pós-laboral, carregando descontroladamente na tecla cardinal e deixando gravações aos berros de tudo o que lhes tinha corrido mal durante o dia.
A utilização do AEC passou a representar praticamente 100% de toda a operação do serviço de perguntas e respostas de Kolmicas. Na realidade apenas uma ervilha por mês chegava efectivamente a fazer uma pergunta. Essa ervilha era trazida até ao escritório de Kolmicas onde um holograma indistinguível de Kolmicas lhe dizia: "Essa é uma questão profunda. Terei que pensar e responder depois. O sistema tem os seus detalhes pessoais. Mando-lhe a resposta para a morada de casa ou por telefone". Invariavelmente a resposta perdia-se depois no intrincado sistema organizacional. Felizmente a ervilha podia telefonar para o número de AEC e requerer o seu reenvio. Na maior parte dos casos, entre alterações de menus e mudanças da voz de atendimento, a ervilha acabava por se esquecer da queixa que ia fazer. E mesmo quando as ervilhas eram perseverantes, acabava por passar tanto tempo que a resposta já não era necessária. Como tudo era automático, Kolmicas podia dedicar-se por inteiro à classificação da informação, a sua verdadeira paixão. Acima de tudo, sentia-se bem consigo mesma por poder disponibilizar um serviço útil e eficiente à comunidade.
Kolmicas e as caixinhas coloridas
Conheço uma ervilha. Chama-se Kolmicas. É obcecada por colibris de penas tufadas. Por colibris de penas tufadas e por informação. Assina duas revistas semanais de ciência, uma de economia e três de generalidades, dois semanários e um diário, e ainda uma revista de geografia que lhe explica, por exemplo, os rituais de acasalamento dos urubus. Toda esta informação aliciante totaliza cerca de 1200 páginas todas as semanas.
Tendo em conta que em cada dia Kolmicas trabalha oito horas e dorme outras oito, mesmo que não fizesse mais nada, teria que ler cerca de duas páginas e meia por minuto para absorver toda aquela informação, o que é impossível. Felizmente, na realidade, Kolmicas não precisa de ler todas as 1200 páginas e o tempo que tem seria exactamente o necessário para ler tudo o que é relevante.
Porém, Kolmicas não se contenta apenas com ler toda aquela informação de forma linear e criou todo um sistema inovador. Para facilitar a absorção de informação, Kolmicas gosta de começar por estruturar aquele conjunto caótico de informação. Então, Kolmicas utiliza o tempo, não a ler todas aquelas fontes de informação, mas sim a folheá-las para seleccionar o que é interessante e o que é irrelevante. As coisas interessantes coloca-as numa caixinha azul com um mocho amarelo desenhado, para ler com atenção mais tarde. As irrelevantes coloca-as numa caixinha vermelha com um veículo de triturar lixo desenhado, para ler apenas se lhe sobrar tempo depois de ler as coisas da caixinha azul.
Infelizmente, quando acaba de organizar todos os seus recortes e vai efectivamente começar a ler o primeiro recorte, a semana está praticamente a acabar. Mas isso não é muito grave, porque nessa altura ela junta as sete caixinhas azuis com mochos amarelos e armazena-as numa divisão da casa dedicada apenas a guardar as coisas interessantes. As sete caixinhas vermelhas com veículos de triturar lixo são colocadas na arrecadação. Com o tempo adicional de pôr as etiquetas correctas em cada caixinha e o tempo de ir comprar novas catorze caixinhas, não lhe sobra tempo para mais nada. Claro que isso não a incomoda porque Kolmicas sabe que quando tiver tempo irá pegar naqueles recortes e ler os mais importantes. E mesmo que não o faça, pode haver alguma altura em que lhe apeteça ler informação interessante e bastará abrir uma qualquer das caixinhas azuis escolhida ao acaso.
Em semanas mais atarefadas, Kolmicas por vezes atrasa-se no processo de catalogação da informação e tornam-se necessárias medidas de emergência. Kolmicas detesta essas medidas de emergência, mas há alturas em que se tornam imprescindíveis. Uma coisa que ela não aceitaria, seria deitar fora jornais ou revistas que tinham custado tanto dinheiro. Numa dessas situações extremas, Kolmicas chegou a acumular quase metade das revistas e jornais de duas semanas sem serem analisados. Teve que comprar uma caixa preta, na qual desenhou uma borboleta cor-de-rosa com um ponto de interrogação em cada asa, e onde colocou em monte todos os jornais que não tinham sido catalogados em azul ou vermelho. Depois pôs essa caixa por baixo da sua cama, porque não queria sequer ver essa parte negra da sua vida.
Todo este processo de estruturação de informação requer muito tempo. Por essa razão Kolmicas não tem qualquer vida social. Sempre que é convidada para algum evento, Kolmicas declina. Sente-se de facto muito tentada a ir, mas invade-a imediatamente uma tensão enorme. Só de pensar na quantidade de caixas pretas que daí adviriam e em como isso poderia levantar a sua cama num dos lados e pô-la a dormir inclinada, fica com calafrios. Kolmicas detesta dormir inclinada. Fá-la ter sonhos em que parece que está sempre a cair mas nunca chega realmente a cair, e o descanso não é o mesmo.
Um dia, quando Kolmicas estava no trabalho, a sua casa ardeu. Não se safou nada. Excepto a arrecadação, que é na cave do prédio. Os peritos pirotécnicos concluíram que devia ter sido um curto-circuito numa das tomadas do quarto de dormir. Disseram que se não fosse todo aquele papel acumulado debaixo da cama, provavelmente nada disso teria acontecido. Kolmicas culpou-se para o resto da vida. Sabia que se tivesse sido diligente e estruturado todas as fontes de informação atempadamente, nada daquilo teria acontecido. Ficou triste. Porém, aprendeu uma lição: não se deve procrastinar coisas importantes. Prometeu a si própria que, mesmo que isso implicasse às vezes não jantar ou até falar menos tempo ao telefone com a melhor amiga, não ia deixar um recorte que fosse por catalogar. A sua diligência foi aparentemente recompesada. Até à data, nunca mais houve incêndio algum na sua casa.
Tendo em conta que em cada dia Kolmicas trabalha oito horas e dorme outras oito, mesmo que não fizesse mais nada, teria que ler cerca de duas páginas e meia por minuto para absorver toda aquela informação, o que é impossível. Felizmente, na realidade, Kolmicas não precisa de ler todas as 1200 páginas e o tempo que tem seria exactamente o necessário para ler tudo o que é relevante.
Porém, Kolmicas não se contenta apenas com ler toda aquela informação de forma linear e criou todo um sistema inovador. Para facilitar a absorção de informação, Kolmicas gosta de começar por estruturar aquele conjunto caótico de informação. Então, Kolmicas utiliza o tempo, não a ler todas aquelas fontes de informação, mas sim a folheá-las para seleccionar o que é interessante e o que é irrelevante. As coisas interessantes coloca-as numa caixinha azul com um mocho amarelo desenhado, para ler com atenção mais tarde. As irrelevantes coloca-as numa caixinha vermelha com um veículo de triturar lixo desenhado, para ler apenas se lhe sobrar tempo depois de ler as coisas da caixinha azul.
Infelizmente, quando acaba de organizar todos os seus recortes e vai efectivamente começar a ler o primeiro recorte, a semana está praticamente a acabar. Mas isso não é muito grave, porque nessa altura ela junta as sete caixinhas azuis com mochos amarelos e armazena-as numa divisão da casa dedicada apenas a guardar as coisas interessantes. As sete caixinhas vermelhas com veículos de triturar lixo são colocadas na arrecadação. Com o tempo adicional de pôr as etiquetas correctas em cada caixinha e o tempo de ir comprar novas catorze caixinhas, não lhe sobra tempo para mais nada. Claro que isso não a incomoda porque Kolmicas sabe que quando tiver tempo irá pegar naqueles recortes e ler os mais importantes. E mesmo que não o faça, pode haver alguma altura em que lhe apeteça ler informação interessante e bastará abrir uma qualquer das caixinhas azuis escolhida ao acaso.
Em semanas mais atarefadas, Kolmicas por vezes atrasa-se no processo de catalogação da informação e tornam-se necessárias medidas de emergência. Kolmicas detesta essas medidas de emergência, mas há alturas em que se tornam imprescindíveis. Uma coisa que ela não aceitaria, seria deitar fora jornais ou revistas que tinham custado tanto dinheiro. Numa dessas situações extremas, Kolmicas chegou a acumular quase metade das revistas e jornais de duas semanas sem serem analisados. Teve que comprar uma caixa preta, na qual desenhou uma borboleta cor-de-rosa com um ponto de interrogação em cada asa, e onde colocou em monte todos os jornais que não tinham sido catalogados em azul ou vermelho. Depois pôs essa caixa por baixo da sua cama, porque não queria sequer ver essa parte negra da sua vida.
Todo este processo de estruturação de informação requer muito tempo. Por essa razão Kolmicas não tem qualquer vida social. Sempre que é convidada para algum evento, Kolmicas declina. Sente-se de facto muito tentada a ir, mas invade-a imediatamente uma tensão enorme. Só de pensar na quantidade de caixas pretas que daí adviriam e em como isso poderia levantar a sua cama num dos lados e pô-la a dormir inclinada, fica com calafrios. Kolmicas detesta dormir inclinada. Fá-la ter sonhos em que parece que está sempre a cair mas nunca chega realmente a cair, e o descanso não é o mesmo.
Um dia, quando Kolmicas estava no trabalho, a sua casa ardeu. Não se safou nada. Excepto a arrecadação, que é na cave do prédio. Os peritos pirotécnicos concluíram que devia ter sido um curto-circuito numa das tomadas do quarto de dormir. Disseram que se não fosse todo aquele papel acumulado debaixo da cama, provavelmente nada disso teria acontecido. Kolmicas culpou-se para o resto da vida. Sabia que se tivesse sido diligente e estruturado todas as fontes de informação atempadamente, nada daquilo teria acontecido. Ficou triste. Porém, aprendeu uma lição: não se deve procrastinar coisas importantes. Prometeu a si própria que, mesmo que isso implicasse às vezes não jantar ou até falar menos tempo ao telefone com a melhor amiga, não ia deixar um recorte que fosse por catalogar. A sua diligência foi aparentemente recompesada. Até à data, nunca mais houve incêndio algum na sua casa.
Kolmicas e o fascinante idioma de Urdiche
Conheço uma ervilha. Chama-se Kolmicas. Kolmicas era uma ervilha muito especial. Tinha umas calças de ganga azuis. Tinha também a particularidade de ter características quase impossíveis de descrever por palavras. Excepto, talvez, dizendo que elas eram quase impossíveis de descrever por palavras. Algumas delas podia ser facilmente descritas em Batongo, um código de tambores da floresta Amazila, ou em Ploc-ploc, uma sofisticada linguagem de estalidos de boca de Urdiche, uma ilha quase deserta no meio do oceano Pacilis. Mas dificilmente por palavras. Era precisamente esta aparente e intrigante discrepância entre a expressividade das linguagens que entretinham Kolmicas dia e noite. Era a sua ocupação a tempo inteiro. O seu sustento material e espiritual.
Algumas características de Kolmicas eram mesmo muito difícieis de descrever por palavras. E, mesmo quando descritas por palavras, a descrição nunca era suficientemente precisa. Aliás, aquela sua característica peculiar de, em certos momentos objectivamente definidos que envolviam uma combinação de factores relacionados com o programa de televisão, o nível de pluviosidade, a soma dos dígitos do dia do mês, entre outros, virar a cabeça para o lado, ligeiramente inclinada para cima, olhos semi-cerrados, mas mais abertos do que fechados, fitando o céu ou o tecto ou o que quer que fosse que a sua cabeça focava quando se inclinava para cima e para o lado daquela forma específica, sentir um fluxo de ar subir pelo esófago para se perder a meio do caminho entre sonoros roncares involuntários, e ponderar por alguns instantes o profundo significado metafísico da existência de certas entidades semânticas serem tão difíceis de expressar em certas linguagens e tão sucintas noutras, caía precisamente nessa classe de características.
Essa sua característica, nos termos exactos acima descritos, era facilmente expressável em Ploc-ploc, a sofisticada linguagem de Urdiche. Bastavam dois estalidos. E se não tivesse lugar qualquer tipo de fluxo de ar no esófago, bastava um estalido. Era, obviamente, uma linguagem bastante sucinta e prática. Claro que não há rosas sem espinhos, a menos que os cortemos claro, e esta facilidade de expressão vinha a um preço. Por um lado, havia alguma ambiguidade na linguagem. Por exemplo, esses mesmos dois estalidos, no mesmo exacto tom e ritmo, podiam também significar "Opá, sai da frente e deixa ver o jogo. Já me estou a passar. É que já te levantaste para aí umas 19 vezes. Mais uma dessas e apanhas pancada à séria. À séria ou a sério? Olha, apanhas das boas!". Curiosamente, os mesmos exactos estalidos podiam ser também usados para dizer, nestes precisos termos, "Caramba! Parece impossível. Uma ervilha acabada de casar e vai assim falecer sem dar cavaco a ninguém. É verdade que já tinha 82 anos e que era a sua oitava esposa mas, mesmo assim, não é razoável falecer-se nestas circunstâncias. Era muito boa ervilha. Se ainda fosse o caso de ter roubado alguma coisa lá do café do Sr Vitor, algum pacote de amendoins. Mas assim parece-me mesmo uma coisa sem jeito".
Claro que este problema da ambiguidade era de fácil resolução. Bastava utilizar o contexto. Quase nunca falhava. O problema era quando havia o que as ervilhas de Urdiche chamavam Coincidências Não Fortuitas. Por exemplo, se estivéssemos a ver um jogo com uma ervilha amiga que tivesse acabado de inclinar a cabeça para o lado e para cima e de fazer uns barulhos esquisitos com a barriga e, como é tão típico nos dias de hoje, tivesse falecido uma ervilha de 82 anos acabado de casar pela oitava vez, seria difícil não gerar a confusão quando tentássemos oferecer pancada à ervilha irrequieta que à nossa frente se tivesse levantado e não nos estivesse a deixar ver o jogo. Esses momentos eram muito raros e eram descritos nos livros sagrados de Urdiche como prenúncios do fim do mundo como Urdiche o conhecia. Dizia-se que todas as ervilhas que assistissem a um desses momentos eram transformadas instantaneamente em puré.
Outro problema aparente é que, por exemplo, a palavra "sim" requeria cerca de 87 estalidos. E eram num tom e com um ritmo tão específicos que a maior parte dos habitantes de Urdiche não chegava a conseguir usar essa palavra. E os poucos que a conseguiam efectivamente aprender não podiam fazer grande coisa com esse novo conhecimento dado. Praticamente ninguém ia perceber o que eles queriam dizer porque não sabiam dizer "sim". E mesmo que dissessem a alguém que soubesse exactamente a sequência de 87 estalidos, era sempre muito arriscado fazê-lo. A verdade é que os primeiros 86 estalidos da palavra "sim" queriam também dizer "Hoje de manhã dormi com a tua mulher; ela sabe-la toda!" e o 87º estalido deve ser dito apenas 7 segundos depois dos primeiros 86. Ora aquele curto iato entre os dois últimos estalidos parece sempre uma eternidade em que se vê toda a vida a passar diante dos olhos e rezamos para ir para o Céu das Ervilhas e não há muita ervilha com tomates para passar por isso.
Enquanto a palavra "sim" estava envolta em todo este conjunto fascinante de complicações, já à palavra "não" bastava um estalido e meio. Embora possa parecer problemático, na realidade não se tratava de um problema efectivo desta população. Era antes, como em todas as linguagens, um reflexo da personalidade daquele povo como um todo. A verdade é que as ervilhas de Urdiche eram muito atentas aos pormenores. Como aliás se percebe facilmente analisando não só as frases que se conseguem dizer com dois estalidos, como também a especificidade das nuances de tons e ritmos que se podem dar a cada estalido. Como ervilhas muito atentas aos pormenores que eram, era difícil estarem de completo acordo sobre o que quer que fosse. Eram aquilo que alguns designariam por picuinhas. Elas não gostavam desta designação. Diziam-se, antes, ervilhas muito focadas. Sendo ervilhas assim tão focadas, os 87 estalidos da palavra "sim" não eram qualquer obstáculo ao seu dia-a-dia. Elas raramente a usavam. Tinham outras expressões como "Pois, é possível, mas não creio muito." que se diziam em meros três ou quatro estalidos. Kolmicas gostava de contemplar este tipo de coisas fascinantes. Ficava absorta num mundo só dela e perdia a noção do tempo. Mas, por acaso, desta vez, não. Eram três da tarde e ela tinha um sítio importante onde estar. Por isso, saíu de casa.
Algumas características de Kolmicas eram mesmo muito difícieis de descrever por palavras. E, mesmo quando descritas por palavras, a descrição nunca era suficientemente precisa. Aliás, aquela sua característica peculiar de, em certos momentos objectivamente definidos que envolviam uma combinação de factores relacionados com o programa de televisão, o nível de pluviosidade, a soma dos dígitos do dia do mês, entre outros, virar a cabeça para o lado, ligeiramente inclinada para cima, olhos semi-cerrados, mas mais abertos do que fechados, fitando o céu ou o tecto ou o que quer que fosse que a sua cabeça focava quando se inclinava para cima e para o lado daquela forma específica, sentir um fluxo de ar subir pelo esófago para se perder a meio do caminho entre sonoros roncares involuntários, e ponderar por alguns instantes o profundo significado metafísico da existência de certas entidades semânticas serem tão difíceis de expressar em certas linguagens e tão sucintas noutras, caía precisamente nessa classe de características.
Essa sua característica, nos termos exactos acima descritos, era facilmente expressável em Ploc-ploc, a sofisticada linguagem de Urdiche. Bastavam dois estalidos. E se não tivesse lugar qualquer tipo de fluxo de ar no esófago, bastava um estalido. Era, obviamente, uma linguagem bastante sucinta e prática. Claro que não há rosas sem espinhos, a menos que os cortemos claro, e esta facilidade de expressão vinha a um preço. Por um lado, havia alguma ambiguidade na linguagem. Por exemplo, esses mesmos dois estalidos, no mesmo exacto tom e ritmo, podiam também significar "Opá, sai da frente e deixa ver o jogo. Já me estou a passar. É que já te levantaste para aí umas 19 vezes. Mais uma dessas e apanhas pancada à séria. À séria ou a sério? Olha, apanhas das boas!". Curiosamente, os mesmos exactos estalidos podiam ser também usados para dizer, nestes precisos termos, "Caramba! Parece impossível. Uma ervilha acabada de casar e vai assim falecer sem dar cavaco a ninguém. É verdade que já tinha 82 anos e que era a sua oitava esposa mas, mesmo assim, não é razoável falecer-se nestas circunstâncias. Era muito boa ervilha. Se ainda fosse o caso de ter roubado alguma coisa lá do café do Sr Vitor, algum pacote de amendoins. Mas assim parece-me mesmo uma coisa sem jeito".
Claro que este problema da ambiguidade era de fácil resolução. Bastava utilizar o contexto. Quase nunca falhava. O problema era quando havia o que as ervilhas de Urdiche chamavam Coincidências Não Fortuitas. Por exemplo, se estivéssemos a ver um jogo com uma ervilha amiga que tivesse acabado de inclinar a cabeça para o lado e para cima e de fazer uns barulhos esquisitos com a barriga e, como é tão típico nos dias de hoje, tivesse falecido uma ervilha de 82 anos acabado de casar pela oitava vez, seria difícil não gerar a confusão quando tentássemos oferecer pancada à ervilha irrequieta que à nossa frente se tivesse levantado e não nos estivesse a deixar ver o jogo. Esses momentos eram muito raros e eram descritos nos livros sagrados de Urdiche como prenúncios do fim do mundo como Urdiche o conhecia. Dizia-se que todas as ervilhas que assistissem a um desses momentos eram transformadas instantaneamente em puré.
Outro problema aparente é que, por exemplo, a palavra "sim" requeria cerca de 87 estalidos. E eram num tom e com um ritmo tão específicos que a maior parte dos habitantes de Urdiche não chegava a conseguir usar essa palavra. E os poucos que a conseguiam efectivamente aprender não podiam fazer grande coisa com esse novo conhecimento dado. Praticamente ninguém ia perceber o que eles queriam dizer porque não sabiam dizer "sim". E mesmo que dissessem a alguém que soubesse exactamente a sequência de 87 estalidos, era sempre muito arriscado fazê-lo. A verdade é que os primeiros 86 estalidos da palavra "sim" queriam também dizer "Hoje de manhã dormi com a tua mulher; ela sabe-la toda!" e o 87º estalido deve ser dito apenas 7 segundos depois dos primeiros 86. Ora aquele curto iato entre os dois últimos estalidos parece sempre uma eternidade em que se vê toda a vida a passar diante dos olhos e rezamos para ir para o Céu das Ervilhas e não há muita ervilha com tomates para passar por isso.
Enquanto a palavra "sim" estava envolta em todo este conjunto fascinante de complicações, já à palavra "não" bastava um estalido e meio. Embora possa parecer problemático, na realidade não se tratava de um problema efectivo desta população. Era antes, como em todas as linguagens, um reflexo da personalidade daquele povo como um todo. A verdade é que as ervilhas de Urdiche eram muito atentas aos pormenores. Como aliás se percebe facilmente analisando não só as frases que se conseguem dizer com dois estalidos, como também a especificidade das nuances de tons e ritmos que se podem dar a cada estalido. Como ervilhas muito atentas aos pormenores que eram, era difícil estarem de completo acordo sobre o que quer que fosse. Eram aquilo que alguns designariam por picuinhas. Elas não gostavam desta designação. Diziam-se, antes, ervilhas muito focadas. Sendo ervilhas assim tão focadas, os 87 estalidos da palavra "sim" não eram qualquer obstáculo ao seu dia-a-dia. Elas raramente a usavam. Tinham outras expressões como "Pois, é possível, mas não creio muito." que se diziam em meros três ou quatro estalidos. Kolmicas gostava de contemplar este tipo de coisas fascinantes. Ficava absorta num mundo só dela e perdia a noção do tempo. Mas, por acaso, desta vez, não. Eram três da tarde e ela tinha um sítio importante onde estar. Por isso, saíu de casa.
A opção pessoal de Kolmicas
Conheço uma ervilha. Chama-se Kolmicas. É muito peculiar. Usa gel no cabelo. Em 1989, Kolmicas entrou numa casa-de-banho de uma discoteca. Passado 10 segundos vomitou. Concluiu que entrar em casas de banho lhe provocava o vómito. Deixou de ir a casas-de-banho. Com excepção de uma vez em 1994. Estava mesmo muito aflita. Chichi. Curiosamente, dessa vez não vomitou. Certamente, foi sorte. Só pode ter sido. A não utilização de casas-de-banho foi uma alteração profunda à sua rotina. Representava todo um conjunto de complicações adicionais. Para não mencionar a discriminação constante por carregar sempre um penico portátil. Mas era o seu modo de vida. E há que respeitar as opções pessoais de cada um.
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