Ubíquo remete-se ao Azul Carmim

Conheço uma ervilha. Ah, não, espera, é um grão-de-bico. Chama-se Ubíquo e, ao contrário do que o seu nome possa sugerir, não está em todo o lado. Ubíquo integra Os Granizados, um grupo a capella que, juntamente com Robirta, gravou Batongo, uma música algo peculiar. Ubíquo é um grão-de-bico existencialista e que dedica grande parte da sua vida a reflectir sobre questões filosóficas profundas. Uma das grandes questões que desde cedo o assolou foi a de não ser possível provar que os grãos-de-bico não são simplesmente um cérebro num boião cheio de líquido no qual são induzidas por impulsos eléctricos todas as percepções sensoriais que os grãos-de-bico pensam sentir no seu dia-a-dia. Toda a vida de um grão-de-bico pode ser uma mera ilusão e não é possível um grão-de-bico provar que a sua própria vida é mais do que apenas isso. Porque, para o provar, teria que sair de si próprio e isso não é possível. Há relatos de grãos-de-bico que ficaram fora de si mas pensa-se que é apenas em sentido figurado.

Recentemente, Ubíquo conheceu Ceroulas, uma ervilha com uma concepção do Universo absolutamente original. Fascinou-o a forma como Ceroulas não assume nada acerca do Universo, nem sequer que há leis físicas que o regem. Mas, acima de tudo, fascinou-o o conceito abstracto e etéreo do seu Universo Azul Carmim, um Universo de conceitos onde existem todos os conceitos que alguma vez alguém pode inventar. Fascinou-o, principalmente, porque sabe que esse Universo tem existência independentemente de o seu cérebro estar dentro de um boião ou não. Ubíquo sentiu que o Universo Azul Carmim lhe punha um sorriso de fascínio nos olhos e lhe permitia não se preocupar tanto com o facto de o seu cérebro poder viver dentro de um boião. Desse fascínio, surgiu Azul Carmim, a sua mais recente criação.





AZUL CARMIM
Ubíquo

Ponho as minhas ceroulas
Finjo estar sempre alegre
Com as surpresas do Universo:
Azul Carmim!

Mas algures na penumbra
Subsistem as dúvidas
Crateras profundas
Quero emergir

O caminho vedado
O arame farpado
Olha-me sempre de lado

Sou só um cérebro
Alimentado por uma pilha solar?
E os corpos mera ilusão
Ficção impressa no meu olhar?

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