A viagem de Robirta ao Universo Bicolor

Conheço uma ervilha. Chama-se Robirta. Um dia Robirta ia a passear pela rua à procura de inspiração para mais uma música quando viu uma casa a arder. Pensou que alguém podia estar em apuros, por isso aproximou-se. Não porque fosse ajudar. Ela não era de actos heróicos. Queria apenas perceber se encontraria ali material para a sua nova canção. Ficou a olhar, a olhar, em buscar de algo etéreo e profundo. Entretanto chegaram vários carros de bombeiros. Em dois minutos, os soldados da paz apagaram o fogo e controlaram a situação. Robirta perguntou a um deles o que se tinha passado. Ele respondeu-lhe que uma ervilha tinha deixado demasiada lixarada debaixo da cama e que um curto-circuito tinha pegado fogo aquilo tudo. Também lhe disse que a curiosidade tinha matado o gato, mas Robirta não percebeu onde é que um gato era chamado para a história. Talvez a tal ervilha tivesse um.

Entretanto, saíu uma ervilha com uma caneca de chá verde na mão, ainda a fumegar, e embrulhada num cobertor com um ar bastante abalado. Chamava-se Kolmicas. Robirta ficou horas a conversar com ela. Queria saber o que se tinha passado e inspirar-se naquela ervilha traumatizada para escrever a sua música e dar largas à sua criatividade. Kolmicas explicou-lhe a grande saga da sua vida em estruturar a informação e em atribuir-lhe uma caixinha vermelha ou uma azul. Robirta ficou absolutamente fascinada. Era impressionante como ela encontrava a cada canto, a cada virar de esquina, alguém com uma história de vida tão fascinante. Escreveu Universo Bicolor, um dos seus maiores sucessos discográficos de todos os tempos.





UNIVERSO BICOLOR
Robirta


Agarro o jornal matutino
São tantas as notícias novas
Toda a informação me olha e implora
Sistemática estruturação

Ao fim do dia, refresco a meu lado
Decido o que é irrelevante
Recortes precisos, a magia no ar
Começo aquilo que me faz vibrar

Catalogar, compartimentar
Eu nunca nesta vida vou parar
Caixinhas azuis, caixinhas vermelhas
Para mais tarde me deliciar

Talvez esse dia nunca chegue
Talvez a luta impossível
Um dia vou contemplar o universo bicolor
Quero acreditar

Quando abro a janela
Esvoaçam lá fora alegres os colibris
As penas incendeiam-se de cores
Que os meus olhos não sabem abarcar

Toda a entropia que me apoquenta a alma
É por demais espampanante
Procuro refúgio bem no fundo de mim
Nem que sucumba eu vou até ao fim

No comments:

Post a Comment