Entretanto, saíu uma ervilha com uma caneca de chá verde na mão, ainda a fumegar, e embrulhada num cobertor com um ar bastante abalado. Chamava-se Kolmicas. Robirta ficou horas a conversar com ela. Queria saber o que se tinha passado e inspirar-se naquela ervilha traumatizada para escrever a sua música e dar largas à sua criatividade. Kolmicas explicou-lhe a grande saga da sua vida em estruturar a informação e em atribuir-lhe uma caixinha vermelha ou uma azul. Robirta ficou absolutamente fascinada. Era impressionante como ela encontrava a cada canto, a cada virar de esquina, alguém com uma história de vida tão fascinante. Escreveu Universo Bicolor, um dos seus maiores sucessos discográficos de todos os tempos.
UNIVERSO BICOLOR
Robirta
Agarro o jornal matutino
São tantas as notícias novas
Toda a informação me olha e implora
Sistemática estruturação
Ao fim do dia, refresco a meu lado
Decido o que é irrelevante
Recortes precisos, a magia no ar
Começo aquilo que me faz vibrar
Catalogar, compartimentar
Eu nunca nesta vida vou parar
Caixinhas azuis, caixinhas vermelhas
Para mais tarde me deliciar
Talvez esse dia nunca chegue
Talvez a luta impossível
Um dia vou contemplar o universo bicolor
Quero acreditar
Quando abro a janela
Esvoaçam lá fora alegres os colibris
As penas incendeiam-se de cores
Que os meus olhos não sabem abarcar
Toda a entropia que me apoquenta a alma
É por demais espampanante
Procuro refúgio bem no fundo de mim
Nem que sucumba eu vou até ao fim
No comments:
Post a Comment